Foi numa aula de
matemática, não lembro se na oitava série ou no primeiro o ano. O professor
estava explicando brevemente o que eram números áureos – e me veio um post it
da carteira da frente: “matemática é uma coisa mágica, cara *-*”. Não vem ao
caso especificamente, mas o bilhete era da minha amiga Marina, que sentou na
minha frente todos os anos de colégio. Desde que eu me lembro, ela era apaixonada
pelas ciências exatas – e tem muito talento pra elas, falando nisso. Talvez por
ela ser minha melhor amiga a tanto tempo eu, nerd de humanas até o último fio
de cabelo pintado de ruivo, consiga entender a fascinação dessa outra
realidade.
Esse post, na verdade, saiu
de um texto que eu li: um perfil do matemático Artur Ávila, escrito por João Moreira Salles e publicado na revista Piauí em janeiro de 2010. Em um trecho, Salles compara os objetos de
estudo das ciências: à física cabe o mundo natural, à biologia, os organismos
vivos. A matemática, ele diz, não possui um objeto tão palpável – imaginamos
conhecê-lo pelas aulas da escola e não estamos totalmente errados, mas a
diferenças entre a matemática da escola e a matemática dos centros de pesquisa,
como os que Ávila faz parte, é a diferença entre a lagarta e a borboleta. Para
nós, não-matemáticos, que só conhecemos a primeira, é impossível intuir a
segunda. “O trabalho de Artur é pensar borboletas”, segundo Salles. Mais pra frente, ele o define como um “especialista
em caos”.
Não é possível que eu seja a única leiga a ver
beleza nessas imagens! Pode ser de momento – todo mundo sai de um filme sobre
balé querendo comprar sapatilhas – mas eu quis muito entender matemática ao ler
o texto. É uma vontade que vai e volta desde meus tempos de escola, hora ódio eterno e desejo de fazer uma
fogueira com todas as apostilas e livros e exercícios, hora um bilhete passado
pra frente com “matemática é mágica, cara” (que virou a frase que eu e Nina
usávamos sempre que a aula era particularmente genial). Por falar nisso, queria muito entender física
e química também –nunca consegui.
Outra coisa que eu percebi foi como a matemática
não precisa necessariamente ser exata – seus objetos são flexíveis, com toques
de incerteza e erros a serem controlados. O próprio Artur brinca que não gosta
muito do sinal de igualdade, prefere aproximações. E daí você olha pra trás,
pros 15 anos que você passou na escola, e vê que você não sabe nada de porra
nenhuma, entende? Sei que chato e clichê, mas fica aqui registrado meu ódio
eterno pelo sistema educacional do Brasil (vestibular é uma merda, beijos).
Tive professores geniais e extraordinários que simplesmente não tinham espaço
pra dividir isso com a gente – e, sinceramente, hoje eu me pergunto, se esse
espaço existisse, quem garante que eu (ou nós, alunos no geral) conseguiríamos
tirar proveito? De todo jeito, estou divagando.
Salles fecha o texto com duas
aspas de Artur. A primeira, de tempos atrás, sobre como ele havia encontrado um
problema que precisava resolver para continuar sua pesquisa. A segunda? “Apareceu
uma ideia essa semana. Acordei de madrugada e teve uma certa mágica”. É, amigo.
Sabia que minha amiga viu essa mesma mágica? Numa aula de matemática, tempos
atrás, não lembro se na oitava série ou no primeiro ano.
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