quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

na natureza selvagem



nunca consegui escrever poesia em português. admito que nem tentei muito, mas nunca consegui. me falta alguma coisa (sensibilidade habilidade talento) na hora de organizar as palavras em versos. minhas tentativas desastradas de poemas não fazem jus ao potencial das palavras. eu amo e odeio as palavras, e quero usá-las direito, entende? (não que as use direito na prosa, mas na minha cabeça [sempre lá] a margem de erro é menor.)


eu consigo escrever poesia em inglês. não sei porque - it comes unasked out of my heart and my mind and my mouth and my gut, eu acho. talvez porque foi em inglês que eu estudei poesia a fundo; que eu desmembrei versos em sílabas poéticas e separei-os em iâmbicos ou trocaicos, mas eu nem lembro o que isso significa direito, só lembro que, em seus sonetos, Shakespeare usava o primeiro.


também pode ser porque, nesse sentido, pra mim o inglês é mais fácil de controlar. português é uma língua linda, mas selvagem, e o sentidos e as possibilidades fogem de mim. na prosa a fuga dá certo, mas é só a língua inglesa que eu consigo domar em versos. e aí, se você tentar, dá pra ver uma metalinguagem poética em colonizar a língua do colonizador - ou, se você for pessimista, constatar com certa tristeza que a colonização foi tão profunda que me tirou a poesia na minha língua. não sei pra que lado eu pendo.

sei que há dois anos a UNESCO constatou que metade das mais de 6000 línguas faladas no mundo vão deixar de existir até o final do século. acho que devo ficar feliz por conseguir fazer poesia em pelo menos uma delas.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

desculpas





gente, cês me desculpam que eu escrevo pouco? não, pera, não me expressei bem. tudo que eu faço é escrever. vocês me desculpam então que eu posto pouco? 


não é que me falte tempo - me falta, claro, mas ar e luz e tempo e espaço não tem nada a ver com isso. eu tenho muito pra falar pra vocês, na verdade. sobre saudades de uma casa que não é minha, sobre o que é ser fã de verdade, sobre a avenida paulista. mas eu tô passando por aquela fase onde passar as palavras da cabeça pro papel tá difícil, entende? (eu juro que é uma fase, e não meu estado normal.)

nesse tempo que a gente não se falou, eu vi um ou dois filmes que me inspiraram, e acho que três livros me fizeram chorar. li pelo menos cinco frases que fizeram minha pele pinicar, pedindo pra ser marcada, e me fizeram sentir aquela inveja de não ter pensado e escrito elas antes. 

ganhei dois unicórnios, comecei mais uma coleção inútil, comprei mais gravuras pra minha parede (que continua sem quadro nenhum), fui em dois restaurantes que eu preciso voltar várias vezes. conheci gente querida, revi gente querida, me senti querida e várias vezes pensei em como sou sortuda por ter conhecido as pessoas que eu conheço. 

viajei bastante - amei alguns lugares, odiei outros, passei mais calor que eu imaginei ser possível, fui conhecendo cachorros fofos pelo caminho. ah, se eu tivesse que destacar alguma coisa desse tempo que eu sumi daqui, seria o quanto eu amo cachorros e gostaria de ter mais deles na minha vida - não sei se alguém já chegou a definir eles como bolas de pelo, amor e baba, mas é bem isso que eles são, mesmo.

então eu vivo escrevendo, me falta tempo mas isso não é problema, e obviamente não me falta assunto - aí vem a pergunta difícil: por que diabos eu não posto? não sei, gente. não sei mesmo. mas vou tentar mudar. sejam pacientes comigo, tá? cobrança só empaca o processo e eu bloqueio de birra, sou madura o suficiente pra assumir. mas com muita fé e aleatoriedade, eu vou atualizando isso aqui.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

matemática é uma coisa mágica, cara


Foi numa aula de matemática, não lembro se na oitava série ou no primeiro o ano. O professor estava explicando brevemente o que eram números áureos – e me veio um post it da carteira da frente: “matemática é uma coisa mágica, cara *-*”. Não vem ao caso especificamente, mas o bilhete era da minha amiga Marina, que sentou na minha frente todos os anos de colégio.  Desde que eu me lembro, ela era apaixonada pelas ciências exatas – e tem muito talento pra elas, falando nisso. Talvez por ela ser minha melhor amiga a tanto tempo eu, nerd de humanas até o último fio de cabelo pintado de ruivo, consiga entender a fascinação dessa outra realidade. 




Esse post, na verdade, saiu de um texto que eu li: um perfil do matemático Artur Ávila, escrito por João Moreira Salles e publicado na revista Piauí em janeiro de 2010.  Em um trecho, Salles compara os objetos de estudo das ciências: à física cabe o mundo natural, à biologia, os organismos vivos. A matemática, ele diz, não possui um objeto tão palpável – imaginamos conhecê-lo pelas aulas da escola e não estamos totalmente errados, mas a diferenças entre a matemática da escola e a matemática dos centros de pesquisa, como os que Ávila faz parte, é a diferença entre a lagarta e a borboleta. Para nós, não-matemáticos, que só conhecemos a primeira, é impossível intuir a segunda. “O trabalho de Artur é pensar borboletas”, segundo Salles.  Mais pra frente, ele o define como um “especialista em caos”. 


Não é possível que eu seja a única leiga a ver beleza nessas imagens! Pode ser de momento – todo mundo sai de um filme sobre balé querendo comprar sapatilhas – mas eu quis muito entender matemática ao ler o texto. É uma vontade que vai e volta desde meus tempos de escola,  hora ódio eterno e desejo de fazer uma fogueira com todas as apostilas e livros e exercícios, hora um bilhete passado pra frente com “matemática é mágica, cara” (que virou a frase que eu e Nina usávamos sempre que a aula era particularmente genial).  Por falar nisso, queria muito entender física e química também –nunca consegui.


Outra coisa que eu percebi foi como a matemática não precisa necessariamente ser exata – seus objetos são flexíveis, com toques de incerteza e erros a serem controlados. O próprio Artur brinca que não gosta muito do sinal de igualdade, prefere aproximações. E daí você olha pra trás, pros 15 anos que você passou na escola, e vê que você não sabe nada de porra nenhuma, entende? Sei que chato e clichê, mas fica aqui registrado meu ódio eterno pelo sistema educacional do Brasil (vestibular é uma merda, beijos). Tive professores geniais e extraordinários que simplesmente não tinham espaço pra dividir isso com a gente – e, sinceramente, hoje eu me pergunto, se esse espaço existisse, quem garante que eu (ou nós, alunos no geral) conseguiríamos tirar proveito? De todo jeito, estou divagando. 


Salles fecha o texto com duas aspas de Artur. A primeira, de tempos atrás, sobre como ele havia encontrado um problema que precisava resolver para continuar sua pesquisa. A segunda? “Apareceu uma ideia essa semana. Acordei de madrugada e teve uma certa mágica”. É, amigo. Sabia que minha amiga viu essa mesma mágica? Numa aula de matemática, tempos atrás, não lembro se na oitava série ou no primeiro ano.










terça-feira, 14 de maio de 2013

só pra vocês não falarem que eu reclamo de tudo

vou tentar não deixar isso aqui se transformar num melodrama barato, juro

hoje dois amigos queridos comemoraram 6 meses de namoro. sei lá, podia não ser nada. ou podia ser uma foto com legenda fofa no instagram, um status meloso no facebook, mas não foi. foi lindo e delicado e nada de mais - o pessoal hoje subestima o efeito de pequenos gestos, né? uma carta escrita a mão e uma foto: o amor é deles dois e não há necessidade nenhuma de anunciar em cada rede social pra que ele seja ~real~ (nada contra se você gosta ou faz isso, cada um sabe de si, só observações gerais)

na hora eu brinquei que não era lugar pra tal coisa, mas pensando melhor, era o lugar perfeito. tem qualquer coisa de poesia em seis pessoas quase chorando à uma da tarde no meio da praça de alimentação lotada do top center com pelo menos cinco pessoas urubusando a nossa mesa - a mesma poesia de dançar sozinho de pantufa e pijama na cozinha domingo de manhã, eu acho. bom acordar de manhã e ir pra aula sabendo que existe, sim, amor em sp, sabe?

e pros meus benzinhos queridos, que os seis meses virem 60 anos 






sexta-feira, 3 de maio de 2013

Por um mundo sem indiretas no Twitter, ou Monica Geller c’est moi


(Não só no Twitter, por sinal.)

Quando eu pensei em escrever esse post, era só porque essas indiretas óbvias, ridículas e passivo agressivas me irritam profundamente. Além de serem atestado de imaturidade, claro.

Mas daí eu parei pra pensar no que leva a gente a tirar minutos do nosso tempo pra bolar a alfinetada perfeita pra pessoa x (porque óbvio que eu já fiz isso, quem nunca – mas eu CRESCI). O que me levava, em particular, a perder meu tempo era normalmente algum tweet/status da pessoa que tinha sido a gota d’água e eu não consegui mais ficar calada, mas ao mesmo tempo não tinha me dado coragem o bastante pra falar diretamente com o ser. E pensando nisso, eu percebi como eram sempre as mesmas pessoas a me incomodar repetidamente.

Agora a parte engraçada. Sabe a beleza do Twitter/Instagram/Facebook/Tumblr? Você escolhe o que aparece na sua timeline. Ninguém é obrigado a seguir ninguém. Aquela pessoa te irritando tá aparecendo ali no seu feed porque você deixa. Óbvio, né? Mas aí vem a parte complicada, não posso dar unfollow porque me segue, porque vejo todo dia, porque insira motivo social qualquer. E se você der unfollow, corre o risco de a pessoa vir tirar satisfação. E você vai dizer o que? Postar indireta é muito mais fácil, sempre foi. Atire a primeira pedra quem nunca mudou o subnick do MSN (que a terra seja leve) e ficou entrando e saindo pra pessoa x ler.

Daí o Zuckerberg se prova genial de novo. Ele sabe que seus amigos são malas e dá a solução: unsubscribe. É lindo, é perfeito, você se livra do pessoal chato mas eles não sabem, logo não há represálias. Mas gente, de verdade, dar unfollow é bom. Não tô dizendo pra cortar da tua vida qualquer pessoa que acordar num dia ruim e for anunciar isso online, ou teus amigos que não param de postar sobre futebol/novela/BBB/política/all that jazz, porque aturar e respeitar esse tipo de coisa é o básico pra se conviver numa sociedade. Mas se tem uma pessoa que você já notou que constantemente te incomoda, te faz mal, vai contra tudo que tu acredita, você quer ela na sua vida pra que?

A real é que falar é fácil, porque eu escrevi isso tudo e sou a pessoa mais amarelona do mundo nessa questão. Pra explicar a segunda parte do título: eu não lido bem com confrontos dessa espécie. Parei de me prestar a mandar indireta, amém, mas tô abrindo redes sociais por aí e ficando irritada. Enquanto eu não chego nesse estágio de iluminação e desapego, fica a dica pra pelo menos o Twitter criar algo similar ao unsubscribe. Desde já, por todos os frouxos por aí, agradeço.